Carlos Carrapeto, Investigador em Gestão e Administração Pública, políticas públicas e governação. [07 Mai. 09]
Presume-se que esta pergunta, que sustenta o ponto de partida da reflexão para a elaboração da Carta Estratégica de Lisboa na área da competitividade, possa vir a ter uma resposta que resulte das respostas aos vários desdobramentos da própria pergunta. Porque só dessa forma se afastará o risco das generalidades, dos lugares-comuns e dos textos redondos salpicados de buzzwords. Contudo e assumindo que o processo participativo é feito de riscos, aqui fica uma tentativa de resposta para essa questão. Esta visão de Lisboa como cidade inovadora, criativa, competitiva no mundo global e próspera, pode vir a ser alcançado através da convergência de dois movimentos impulsionados pela Câmara Municipal de Lisboa (CML). Um movimento focado no reforço dos centros de conhecimento, no investimento em infra-estruturas para o seu desenvolvimento e na criação de condições para a atracção de talentos. Um outro movimento orientado para a dinamização das redes de inovação e de actores do desenvolvimento económico, orientado para as micro, pequenas e médias empresas, em especial para as empresas familiares, para o comércio, para os serviços às pessoas e para os criativos. Se é certo que as empresas se tornam inovadoras quando são lideradas por um inovador radical ou quando estão inseridas em redes de inovação eficazes, então uma boa parte da energia e dos recursos de governação local, numa cidade como Lisboa, devem ser direccionados para a criação de contextos adequados à emergência desses inovadores e à melhoria da eficácia das redes que já existam e que venham a emergir. A diminuição dos custos de contexto também se joga aqui, ao nível da eliminação das barreiras que inibem o fluir das relações nessas redes. Os dois movimentos, diferentes na sua natureza, podem alavancar essa mudança na cidade e nas suas dinâmicas. Não será o mesmo se apenas forem investidos alguns milhões de euros na recuperação de centros de conhecimento e na organização de grandes eventos que atraiam a Lisboa, os grandes “sábios” da actualidade. Também não surtirá muito efeito fomentar apenas a modernização do comércio, naquilo que é seu lado tangível, apoiar a criação de novas empresas em incubadoras e parques tecnológicos ou lançar uns concursos de ideias para novos empreendedores. Este nível de intervenção, tão comum hoje, por vezes não passa para além da superficialidade das coisas. É necessário arquitectar formas de intervenção que atinjam o coração dos factores associados à mudança. E, desse modo, é necessário encontrar formas de levar o conhecimento produzido às empresas. Mas também é preciso pôr em prática dinâmicas que encarem cada empresário, desde a proprietária de um salão de estética no centro da cidade, à empresa de metalomecânica, como os verdadeiros inovadores. E para, isso é preciso aproximar os produtores de conhecimento destes empresários e apoiar a elaboração e a reformulação de planos de negócio. Os dois movimentos significam, no fundo, dois tipos de actuação em rede. Porque mundo global é um mundo de redes, Lisboa deve procurar investir para ganhar a sua centralidade nas redes globais de inovação e criatividade. Mas porque a malha de micro-redes já existe e é ela que sustenta a economia da cidade, então o segundo movimento deve ser dirigido à dinamização dessas pequenas redes. Vários grupos de facilitadores, com a sua actuação orientada pelas valores da estratégia em causa, trabalhando no terreno em parceria com os outro actores (universidades, empresas, associações, administração pública central, famílias, indivíduos, etc.), a trabalharem por zonas geográficas da cidade, num processo seguro de reinvenção de modelos de negócio, podem fazer toda a diferença nesse processo de transformação da cidade.
QUADRO DE INICIATIVAS (EXEMPLOS)
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No que se refere ao modelo de governação destes dois movimentos, também aí será necessário inovar. Neste caso, optando pela simplicidade. As agências são a solução mais utilizada, mesmo em Portugal. Podem ter a natureza de empresa municipal ou de associação privada sem fins lucrativos. Se for este o modelo escolhido deverá caracteriza-se pela inovação na gestão, não estar centrado na estética da sua actuação e não assentar numa departamentalização repleta de papéis de chefias. Outra possibilidade é a utilização de pequenas unidades funcionais (modelo da task-force) inseridas na orgânica da Câmara Municipal. O risco de captura pela cultura burocrática demasiado dependente do normativo é elevado e só poderá ser minorado com coordenadores com um perfil muito especial. Não haverá uma única solução, mas qualquer que seja a opção, o modelo de governação deverá assentar na criação de parcerias com os actores já existentes induzir formas de actuação conjunta alavancadas pelo espírito de inovação. Sim, é possível.
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