Poderá perguntar-se se de facto se justifica o elevado investimento cívico, político e institucional que acima referimos. Não tendo a pretensão de aprofundar este tema, gostariamos de sublinhar duas vertentes que consideramos fundamentais. Em primeiro lugar, importa reconhecer que para um número crescente de pessoas, a ‘unidade territorial’ da vida quotodiana, onde se desenrolam as actividades de residência, trabalho, lazer e consumo, deixou de se confinar ao aglomerado urbano tradicional. Por outras palavras, os locais onde se exercem as actividades quotidianas estão prgressivamente separados um dos outros. Quando tal acontece num quadro territorial polinucleado, estamos a falar num novo conceito de cidade, que alguns designam como ‘cidade-região’, diferente do das áreas metropolitanas tradicionais e que acarreta novos problemas e desafios para o planeamento e a gestão territorial. Em síntese, poderemos por exemplo dizer que, de forma crescente, a qualidade de vida das pessoas que residem e/ou trabalham em Aveiro depende da qualidade do planeamento e gestão territorial em municípios vizinhos, como seja Ílhavo, Águeda, Albergaria-a-Velha, Estarreja e Murtosa sendo que, naturalmente, o inverso é também verdadeiro. Assim, a atractividade e o bem estar de um dado município é crescentemente influenciado pelos padrões de qualidade dos municípios que o circundam.
Numa perspectiva que privilegie factores de ordem económica torna-se porventura mais óbvia ainda a teia de interdependências (também de âmbito territorial) que as dinâmicas contemporâneas vão tecendo. A importância da inovação para a competitividade económica e dos factores intangíveis que a suportam, desde a ligação a centros de conhecimento à cooperação inter-empresarial e institucional (capazes de criar, disseminar e de se apropriar desse conhecimento), tornam manifestamente insuficiente o espaço municipal para o desenho e concretização de estratégia de desenvolvimento. Não é aliás por acaso que em muitos Estados Membros da União Europeia e na própria União Europeia tem vindo a dedicar uma atenção crescente às condições de ‘governação’ das cidades-região (e há vários documentos oficiais que reflectem), enfatisando que elas constituem um dos principais sustentáculos da competitividade económica e das economias regionais e que uma das condições fundamentais de sucesso reside na capacidade de cooperação voluntária entre as diferentes unidades administrativas que a compõem.
Artur da Rosa Pires - Nov 2000
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Construir uma Perspectiva Estratégica para a Região de Aveiro
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