quarta-feira, 2 de maio de 2007

- As cidades e a Inovação

Sobre este tema, comecemos por (re)visitar Peter Drucker, no seu livro de 1984, "Innovation and Entrepreneurship". Afirmava ele logo no início do Prefácio, "Enquanto muito da discussão actual trata o empreendorismo como qualquer coisa de misterioso, seja dom, talento, inspiração, ou "rasgo de génio", este livro apresenta a inovação e o empreendorismo como tarefas direccionadas que podem ser organizadas – de facto necessitam de ser organizadas – e como trabalho sistemático." E, mais adiante, "O empreendorismo não é nem uma ciência nem uma arte. É uma prática."
Num comentário de 1990 ao seu conhecido ensaio "The Rise of the West", o historiador W. H. McNeill escreveu "The Rise of the West assenta na ideia de que o principal factor promotor de mudanças sociais historicamente significativas é o contacto com estrangeiros possuidores de capacidade novas e desconhecidas".
As duas ideias fundamentais que ressaltam destes textos são, por um lado, a "inovação" como "processo produtivo", susceptível de ser organizado e gerido em direcção a objectivos definidos e, por outro, as "cidades" como lugar privilegiado do processo de "criação/difusão" da inovação.
As cidades, algumas cidades, são, simultaneamente, os pontos nodais em que se cruzam estas duas perspectivas da "Inovação", a perspectiva histórica e a perspectiva técnica. Ao longo da História, as redes comerciais ligando cidades afastadas foram fundamentais para a dinamização da economia e difusão da inovação e, nesta óptica, a Lisboa do sec. XVI constituiu, brevemente, um ponto fulcural da difusão da inovação entre o Ocidente e o Oriente. E foi, muito provavelmente, o "corte" já então existente entre Lisboa e o resto do país, que impediu que esse "momento único" se perpetuasse.
É esta difusão em rede da "inovação" que se pode dinamizar com o projecto da "Capital Europeia da Inovação", reconhecendo que quando se fala de "inovação" está a falar-se de "organizar" objectivamente o processo da "inovação" criando as infra-estruturas necessárias e as redes relacionais adequadas à consolidação duma "pulsão" inovadora através da Europa.
Estamos a falar de uma convergência entre o processo político – a gestão da cidade e das suas áreas de influência – e o processo económico – o reforço das condições de competitividade da região e das empresas nela localizadas.

Fonte: Jornal de Negocios, em 15 NOV 2006

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